terça-feira, 24 de agosto de 2010

Encontrou Jesus é o caralho!


Evangélicos aterrorizam
Não eximo a Igreja Católica
Pelo contrário
Mãe de toda desgraça
Todavia
Contudo
Entretanto
Evangélicos
Fiéis
Silgas Malfalares da vida
Esses
Com tetos de vidros
Templos desabantes
É!
A casa caiu
Ruiu
O telhado
Ploft
Em outros tempos
Chutavam Santas
Brããbouos e whatevers
Em seus iates
Helicópteros
Jatinhos cheios de putas
Vivem rindo fiéis
Depositantes de dízimos
Rasgando dinheiro
O próprio dinheiro
Favelados pagam não tendo
Para serem perdoados
Perdoados do quê
Se ganha muito dinheiro em nome da fé
Jesus me ama
Jesus me ama é o caralho!
Não venham com papo de Jesus
Não preciso de intermediários, interpretando em causa própria.
Tiro na testa dos Silgas Malfalares
Pastores
Pastores de cu é rola
Coitado de Jesus, o verdadeiro!
Livre arbítrio
Eu acredito em livre arbítrio
O Jesus usado pelas Igrejas para fins contrários a tudo que o próprio pregou
Esse Jesus eu quero que se foda
...Eee...
Os sociopatas
Usam Jesus para dissimular sua essência
Pagam dízimos
Pronto
Agora são melhores do que eu
Escondendo-se no falso sublimar
É mole
Eu mato
Estupro
Roubo
Pago o dízimo

Silgas Malfalares diz eu ter encontrado Jesus
É
Seus problemas acabaram
Mate hoje
Encontre Jesus amanhã!
Tudo certo
Tá de sacanagem!
Canalhas a um piscar de cu pra sucumbirem
Convencer-me...
Nunca!
Preferia mil vezes quando a professora da academia assumia-se vadia
Tinha dois namorados
Chupava meu pau
Ela era feliz
Agora encontrou Jesus
Vive lendo a bíblia
Pregando
Cabisbaixa
Isso resolve tudo
Hahaha...
E o meu vizinho
Tinha um esquema de roubo de carros
Todo mundo sabia
Falava com geral
Vivia rindo
Sempre com lindas mulheres
Também encontrou Jesus
Vive na Praça General Osório
Pregando
Sozinho
Tenho medo desses sociopatas regenerados
Eram mais honestos antes de encontrar Jesus
Não se negavam
Por isso digo e repito
Encontrou Jesus é o caralho!

                                                                                                     Pablo Treuffar

domingo, 15 de agosto de 2010

A última ceia


Já não suportava mais aquela dor.

O abdome lhe doía com tanta intensidade que o estava levando à loucura.

Não se lembrava mais quando fora a última refeição. Perdera a noção de tempo e espaço.

A fome era excruciante. Ouvia suas entranhas suplicarem por pão.

Ali no chão, encolhido junto à parede, contorcia-se.

A lucidez há muito o abandonara.

Imagens desconexas surgiam em sua mente como slides projetados. Não entendia.

A mente gritava: Fome!

O corpo implorava: Morte!

Em seu delírio, arrastou-se até o caixote. A mão trêmula apanhou a única faca.

Com muito esforço, despiu-se.

Enterrou a faca na magra coxa. Cortou-lhe um pedaço, levando-o à boca.

A fome era tamanha, sequer mastigou.

Prosseguiu a automutilação.

Mais um pedaço. Desta vez saboreou.

Nunca experimentara nada parecido.

Apreciou a iguaria.

Entregou-se àquela refeição.

A última de sua vida.

                                                                                                            Renato Duran

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A morte de um pensamento

Estou neste lugar há três dias. Não como, não durmo e não bebo nada há três dias.

Você consegue imaginar o peso desses três dias? (pausa)

Minhas costas doem muito...meu nariz não pára de escorrer...e tudo isso há três dias. (olha no relógio) Mais precisamente 39 horas e alguns minutos.

( Dá uma longa tragada no cigarro)

Três dias....(pausa longa)

Pelo menos deu tempo de pensar na besteira da minha vida.... (pausa)

Fachada! Pura fachada....

Amigos...festas, mulheres, bebida....ah....

Filhos da puta...barulho, vadias e vômito...isso sim. (começa a se exaltar)

Era só prejuízo!!! (muda de repente)

E pra um pobre metido a bacana qualquer notinha já faz uma enorme falta...

Mas não, que isso...não esquenta não...depois a gente acerta...

E acertava??? Acertava nada!E o idiota aqui bancando...um monte de marmanjo, puta e vagabundo.

E pensa que depois, na hora que eu estava liso, aparecia algum desgraçado pra me ceder um cigarro? (risos)

(Acende um cigarro)

(Pausa)

Pelo menos não me deixaram sem cigarro neste fim de mundo.

(longa tragada)

Fui dormir na sexta, acho que era sexta, e acordei aqui...em cima desta mesa, numa ressaca enorme, sem nada pra comer e nenhuma cervejinha...numa vontade de fumar. Ainda bem que achei 5 maços de cigarro jogados pelo chão...e até fósforos deixaram...

(pensa e olha para os enforcados)

Deve ter sido o último pedido desses daí: “-O chefia, me dá um cigarrinho antes da caixa prego!”

(risos irônicos, seguido de choro convulsivo)

E no fim é isso....um cigarrinho e vela....se acenderem uma vela por você... (pausa, senta na mesa, chora com a cabeça entre as mãos)

(Se recompõe)

O pior de nossa vida é quando a gente sabe que está morto.

Não digo morto, enterrado, igual a esses aí não...O pior é quando a gente se torna um pensamento morto.

Nada mais faz diferença, nem amor de mãe, nem de família, nada...nada mesmo!

Minha mãe...uma maníaco depressiva...vive enchendo o saco em nome da vida dos outros...e família então....um bando de urubus sedentos por carniça, loucos pra te ver na merda, pedindo esmola, e de preferência pedindo esmola pra eles...(pausa)

Lembro da Clarinha...(com emoção) Branquinha, cabelos negros, cinturinha fina...ah...

Mas, de que adianta esse amor platônico, se já me sinto morto. (silêncio)

Estou cinza, sem cor de vida, e que vida que eu levei não é mesmo?

Agora, eu fico olhando pra esses três aí...

Três corpos apodrecendo que nem conseguem me causar piedade!

O que será que leva uma pessoa ao suicídio? (longa tragada no cigarro)

Minha vida sempre foi meio vazia, mas em tirar minha própria vida eu nunca pensei! Nunca mesmo!

Se a vida já é uma merda aqui na Terra, imagina o inferno como deve ser... (silêncio)

(Gargalhada)

Olha que besteira que eu estou falando!! Inferno?! Existe maior inferno que acordar cedo, encarar o diabo do chefe, ficar em fila de banco e voltar sozinho pra casa?

Tenho certeza que não.

(Longa pausa)

Mas o que levou esses aí a dar fim nessa droga de vida?

Aposto que eles não tinham cigarro! (risos)

E de tão acostumados que ficamos com a correria da cidade, esse silêncio e essa calmaria bucólica nos deprime.

(Reflexão)

O cara fica a vida inteira correndo de um lado para o outro atrás de dinheiro e promete pra si mesmo que quando se aposentar vai ter sossego. Aí o cidadão se aposenta e morre! (gargalhadas)

Sossegou mesmo! Sossego eterno!

Só não se dá bem quem tem a alma atormentada. Aí não tem sossego. Tipo esses suicidas aí.

Mas,pensando bem,será que existe mesmo uma alma nesse nosso corpo? Se Deus existe e cobra bondade dos seres humanos, por que Ele deixou que inventassem o capitalismo?

Veja bem, como o cara vai bancar o bonzinho, se o tempo todo ele tem que pensar em produzir, em ganhar dinheiro para comer? Não dá pra ajudar o ceguinho atravessar a rua se você está atrasado para pegar o ônibus! Muito menos fazer uma doação para crianças carentes se suas contas estão atrasadas. E o pior é que quem tem tempo e dinheiro pra essas coisas se preocupa mais com a neve de Bariloche do que com o aquecimento global.

Definitivamente alma não deve existir. Nem reencarnação. O ser humano já leva uma vida de cão, aí como se não bastasse, é obrigado a viver de novo porque não pagou todos os pecados em sua breve existência.

(Acende um cigarro e dá uma longa tragada)

Pra falar a verdade, eu nunca fui tão fiel assim, e acho mesmo é que Deus não existe!

Pronto, falei!

Como o mundo pode ser assim tão perverso e desumano se há no céu um Deus justo e bondoso? E não me venham com essa de livre arbítrio, que tudo que acontece na Terra é exclusivamente causado pelo homem, mesmo porque a maioria dos homens não têm direito nenhum de escolha, quanto mais livre arbítrio. Aliás, nem sabem o que quer dizer a expressão.

(Pausa)

Estou me sentindo bem mais aliviado. Afinal, essas confissões a gente não faz toda hora.

Já pensou, chegando no trabalho, olho pro meu chefe e digo: “- Bom dia! Eu não acredito em Deus e muito menos na bondade das pessoas!”

(Dá a última tragada no cigarro e joga a ponta)

(Pausa)

Pensando bem, olhando esses três aí, até acho que eles tem mesmo é coragem. Renunciaram à hipocrisia desta vida.

(Olha fixamente os cadáveres e fica um tempo atônito)

Tem mais duas forcas prontinhas ali.

(Longa pausa)

Uma deve ser pra mim.

(Acende outro cigarro e fuma sem dar uma palavra)

Os outros apenas não fumavam...

(Vai até uma das forcas, sobe no tronco da árvore)

Espero que o próximo aproveite melhor os três maços de cigarro que sobraram.

(A forca faz o seu papel)

                                                                                              Rafael Freitas


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Carta aos críticos

"Queridos críticos literários, 
Não, eu não tenho depressão!
A literatura nem sempre é a realidade.
Ela simplesmente é um quadro da realidade. Uma pintura.
Cada um a interpreta à sua maneira. Cada um a pinta à sua maneira.
Escritores são pintores da realidade.
Críticos são aqueles que não sabem pintar."

                                                                                          Rafael Freitas