O abdome lhe doía com tanta intensidade que o estava levando à loucura.
Não se lembrava mais quando fora a última refeição. Perdera a noção de tempo e espaço.
A fome era excruciante. Ouvia suas entranhas suplicarem por pão.
Ali no chão, encolhido junto à parede, contorcia-se.
A lucidez há muito o abandonara.
Imagens desconexas surgiam em sua mente como slides projetados. Não entendia.
A mente gritava: Fome!
O corpo implorava: Morte!
Em seu delírio, arrastou-se até o caixote. A mão trêmula apanhou a única faca.
Com muito esforço, despiu-se.
Enterrou a faca na magra coxa. Cortou-lhe um pedaço, levando-o à boca.
A fome era tamanha, sequer mastigou.
Prosseguiu a automutilação.
Mais um pedaço. Desta vez saboreou.
Nunca experimentara nada parecido.
Apreciou a iguaria.
Entregou-se àquela refeição.
A última de sua vida.
Renato Duran
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