“É melhor conhecê-lo que assistir ao rasante de um pássaro imundo. Os pássaros não têm a opção de sujar-se”.
Acordei, coração disparado e com aquele gosto imbecil de cigarros e gim na boca.
A noite foi longa e os planos também.
Sempre acordo desistindo de tudo e trago o arrependimento como minha bíblia de bolso.
“Os pássaros não têm a opção de sujar-se”.
Será que alguém me disse isso na noite anterior, ou será que o nojo irremediável por pombas me fez sentir na pele aquela imundície contagiante?
Não sei.
“É melhor conhecê-lo que assistir ao rasante de um pássaro imundo”.
Quem será que me conhece ou quem eu conheço sem saber?
É estranho acordar com frases feitas na cabeça.
Aquelas pombas no calçadão, a sensação de estar cercado por elas, que a qualquer momento poderiam invadir meu corpo com seus bicos sujos de lixo.
As pessoas são como pombas, eu acho. Inclusive eu.
Eu tenho a opção de me limpar.
E continuo sujo.
Rafael Freitas
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