Há tempos não vejo flores na paisagem.
Pode ser que estejam ali, mas não as vejo.
Ontem até olhei a lua. Fina e torta. Bumerangue de sonhos.
Fumei mais um cigarro.
A bebida e a fumaça estão me destruindo.
Não vejo as flores.
Certamente se escondem em meio a todo esse capim.
A ferrugem entra em casa pelo portão. Começa nele e para em
meu peito.
Meus instrumentos silenciaram suas cordas.
Voz rouca e pouco ar.
Os ipês nunca deram flores. Não as vi.
Queria sentir seu cheiro. Não sinto.
Ver suas sobrancelhas grossas e seu sorriso de manhã de sol.
Não vejo flores, não sinto cheiros, não sei esperar a estação
correta.
Você foi embora com a promessa de voltar.
Eu fiquei em pé à porta. Esperei sob a luz fraca do poste de
periferia.
Preferia não saber do bem que sua voz me faz.
Preferia não saber.
O conhecer é caminho sem volta.
Não sei esperar a primavera. As flores sabem sozinhas a hora
de desabrochar.
Por me preocupar tanto com as chuvas de verão não vejo a
chegada das flores.
Sei que elas existem. Há tempos não as vejo.
Você realmente se foi.
Espero não ver a beleza das flores somente quando todas
juntas formarem uma coroa.
Não quero mais lágrimas.
Não quero mais nada.
Quero a chave da primavera pra poder te ver florir em casa,
perfumando minhas toalhas velhas e meus lençóis manchados.
Clareia.
Rafael Freitas
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