segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Jasmins

Os jasmins floriram.
A brancura de suas flores reflete a alma de quem as vê.
O perfume é inebriante, quase tóxico, quase afrodisíaco.
O calor continua o mesmo. As noites de suor no rosto, insônia e pernilongos.
Mas o mesmo eu não existe mais.
Pode ser que eu não tenha nunca novos caminhos, porém tenho novas passadas, novo gingado, nova respiração.
E, agora, tenho jasmins no caminho.
Jasmins e Damas da Noite.
Quanto perfume para pouco volume de folhas e galhos.
O que pode ser insignificante aos olhos por vezes nocauteia outros sentidos.
Tenho memória olfativa.
Cheiros me lembram pessoas, lugares, momentos.
Seu cheiro insiste em ficar.
Meu cheiro quase não me pertence. Meus pensamentos também não.
Devaneios insones ainda me dominam, mas já me controlo e cantarolo.
Sou filho da mata, caçador como meu pai. Sou filho das quedas d’água, sentimento envolto em sentimento, amor sem controle e quase sempre sem foco.
Não sei retribuir o que me é dado, fui criado assim. Não sei dividir.
Sei compreender. Perdoar. Estou sempre em aprendizado.
Começo agora.
Perfumei a alma para que os jasmins pudessem sentir meu cheiro.
Perfumei a casa para as Damas da Noite entrarem.
Espero que lembrem de mim quando por ventura eu não estiver mais aqui e meu cheiro perambular pelas ruas.
Eu ainda me lembro do seu cheiro, sempre vou lembrar.
Tenho memória. Tenho saudades. Tenho coração.

                                                                                    Rafael Freitas


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