Seus olhinhos fitavam cada movimento daquele bico enorme e colorido.
“Olha o tucano pai!”
Eu ali parado com a cabeça gritando vida nova. Coisa estranha essa. Você já é independente. Escolhe o sabor do sorvete, a pizzaria e o quarto onde quer dormir.
Certamente eu sou mais indeciso e confuso.
“Eu quero o leão!”
“Eu quero algodão doce!”
“Eu não preciso tomar água!”
Nossa, como você sabe das coisas!
Mas não se discute filosofia com crianças. Sou seu pai e pronto.
Sua mãe e eu não estamos mais juntos como casal, mas estaremos sempre unidos como pais.
Você é minha alegria diária e minhas saudades também.
Seja livre. Diferente das araras e tucanos e leões e atendentes de fast food.
Meu coração dói ao pensar na sua independência. Mas meu corpo dói pelo trabalho, minha cabeça pelas cervejas, meus pés pelos meus tênis baratos e tudo isso passa.
Eu vou estar sempre aqui. Ou ali.
Mas vou estar.
Rafael Freitas
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