quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Eu

Revirando gavetas do tempo
Encontrei bem lá no fundo
Empoeirado e sem vida
Algo que me pertenceu há tempos:
Ali no canto esquecido estava eu
Mas não este eu sem graça de hoje
Este eu que tem mágoa
Tristeza, ressaca e dor no peito
Não este eu com fobia,
Medo do escuro e da luz
Este eu que esconde o que sente
E sente o que não quer sentir
Que braveja, que espanta, que afasta
Que destrói, que desfaz, subtrai
Que não perdoa, não esquece e não lembra
Corre, se esconde, mente, morde, briga,
Xinga, cospe, sangra, sua, fede, mija,
Perturba, assombra, amedronta
Não, não, não, não!
O que estava lá era um eu que sinto saudade
Um eu que me recordo com lágrimas nos olhos
Que não tem a devassidão do mundo em si
Não tem emprego, nem contas, nem nada
Tem planos, vontade e fé
Não sei se em deus ou na vida ou nas pessoas
Em algo mesmo desconhecido, esperança
Um eu que solta pipa, corre na rua e na terra
Que não tem nojo de um aperto de mão
Que sonha em ser rock star e canta
No banheiro, no caminho da escola, na aula
Planta mudas no quintal de casa
Sobe em telhados, faz arte de arteiro, não de artista
Que estuda pensando no futuro
Que sonha em mudar o mundo com palavras.
Esse eu agora não me serve.
Não acredito que seja o fim
Um pouco de esperança sobrou.
Mas hoje é tudo diferente
Não quero estragar meu eu do passado
Com minhas imperfeições de agora.
Vou tirar a poeira e guarda-lo melhor
Para usar na melhor situação
No melhor momento
No melhor de mim.

                                                          Rafael Freitas

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