Esses cabelos
Esses olhos, essa boca
Essas orelhas grandes
Esse nariz, esse tronco
Esse resto.
Minha alma não merece
Essa morada sem graça
Sem vida, sem nada.
Já tentei pintar as paredes
Os braços, as pernas
As costas, as coxas
Mas a tinta só pode se ver
De dentro pra fora
De longe.
Já tentei lavar a morada
Sal grosso, sabão
Ervas santas e cremes
Mas a limpeza só se sente
De dentro pra fora
O olfato.
Já expus essa pele ao sol
Ao sereno, ao relento
E nada me adiantou.
Procurei faxineiras
Mulheres, besteiras
E a casa, a casa
A casa só se empoeirou.
E agora percebo sozinho
Que esse lar não é nenhum ninho
E o que é sujo
Incomoda e sobra
É o que vive sob esse teto.
Rafael Freitas
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