Os ovos boiavam nas bolhas
da água que fervia.
Dois.
Não se atentou ao tempo. A
gema escorreu crua entre os dedos.
Sangue amarelo de um embrião
que nunca existiu.
A cabeça doía há três dias.
Um dia, uma semana, um mês
que era melhor não ter existido.
A vida escorria crua entre
os dedos. Crua, sem preparo.
A tristeza de uma festa
vazia.
A tristeza de um hospital
lotado.
Não teve paciência de
esperar o ovo cozinhar.
Odiava comidas cruas.
O ouvido zumbia.
Muito barulho por nada.
A vida toda.
Por nada.
Foi embora sem levar os
anéis de ouro, os remédios de pressão, o creme de pitanga.
Todos vamos embora.
Não era hora.
Não teve paciência de
esperar a vida amadurecer.
Ovos crus.
Sangue amarelo.
Nada de crisântemos.
Esses dias poderiam não
existir.
Rafael Freitas
Acontecem.
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