domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma verdade sobre o Natal

Iam pai e filho, olhando vitrines e admirando os produtos.

- E aí, já escreveu a carta pro Papai Noel?

- Ainda não. Não tenho certeza se ele existe mesmo.

- Claro que existe, olha um lá bem na esquina.

- Com esse calor o cara fica usando essa roupa estranha.

- É que ele vem do pólo norte, lá é frio.

- Se ele dá presente pra todo mundo, por que não compra uma roupa nova? Aqui faz muito calor.

- Você tem razão. Mas e a carta?

- Não sei o que eu quero esse ano. Talvez uma bola de futebol ou uma bicicleta.

- Bola eu acho mais legal.

- Mais legal ou mais barata?

- Em conta também. O coitado do Papai Noel tem muitas crianças pra presentear e pode faltar dinheiro.

- Ninguém mandou ele inventar essa história de Natal.

- Não foi ele quem inventou o Natal. Dia 25 de dezembro é o nascimento de Jesus.

- E o pai de Jesus é o Papai Noel?

- Não, é José.

- Então de onde apareceu esse cara?

- Do pólo norte.

- E quem dá dinheiro pra ele comprar presentes?

- Não sei não... Você faz muitas perguntas sem resposta.

- Vamos lá que eu vou pedir meu presente.

- Ho ho ho...

- Papai Noel, eu quero uma bola de futebol de presente de Natal.

- Mas você foi um bom menino?

- Acho que sim.

Continuaram os dois caminhando em silêncio.

O Papai Noel desapareceu em segundos.

O pai não queria acabar com os sonhos do menino.

- Pai, aquele Papai Noel tinha uma cara de coitadinho. Resolvi pedir a bola de futebol mesmo.

- Acho que nosso Natal acabou.

- ?????

- O Papai Noel acabou de roubar minha carteira.

                                                                                       Rafael Freitas



Feliz Natal a todos...hohoho!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Carta a Théo

Eu estava numa tremenda ressaca quando aconteceu.
Foi um susto, tanto pra mim quanto para a mais nova melhor mãe do mundo.
E aí você veio ao mundo poucas horas depois do último ultra-som.
Eu levei câmera de vídeo, pus uma roupa horrível e fiquei ali fingindo que estava bem.
Barriga aberta é mesmo algo muito feio. Lembrei de bacon e carne de porco.
Boca seca, mais pelo momento que pela bebida da noite anterior.
Deve ser difícil pra você ter um pai que adora a noite e os botecos.
Quando ouvi o primeiro choro, senti uma vontade imensa de chorar também, mas sabe como é, o pai sempre tem que ser herói.
Sua mãe não agüentou e derramou algumas lágrimas.
O primeiro bebê sem cara de joelho do mundo é meu filho. Lindo.
Nasceu inchadinho, parecia até que era filho de japonês. Com todo respeito à sua mãe.
Depois dos médicos, eu fui o primeiro a pegar você no colo e dizer seu nome bem baixinho ao pé do ouvido: “Seu nome é Théo, foi o papai que escolheu.”
Fiquei olhando pra você um tempão e confesso que me incomodou muito ver você perdido nesse mundo enorme.
E o tempo passa rapidinho né. Já faz um ano e sete meses.
Você já usou roupinha do Palmeiras, camiseta e sandália do Backyardigans, comeu papá e levou uns tombos.
Nadou na piscina do termas e do Amir, ouviu Ramones e Beatles, uns trechos do Nietszche, foi ao zoológico e andou de bicicleta.
Tem um All Star vermelho igual ao meu.
Sem dúvida é a melhor coisa da minha vida.
Sempre será.
Por isso trago seu nome tatuado em meu braço e seu rosto no coração.
Assim como esses 19 meses passaram sem que nós pudéssemos perceber, daqui a pouco você vai prestar vestibular, escolher uma profissão e seguir seu rumo.
Eu, que hoje talvez seja pra você um cara moderno e atual, vou ser ultrapassado e obsoleto.
Queria ser um humano melhor pra você sempre ter orgulho do seu pai.
Você tem nome de mecenas, de artista e de personagem mitológico.
Amo você pra sempre. Filho maravilhoso.
A cara do pai.
Claro que muito melhor.

                                                                                       Rafael Freitas