Era uma vez um
zoológico.
ZooDarwin.
Lá havia jaulas gigantescas, muito povoadas, em constante agitação: a ala dos primatas.
Adolfo era o tratador
dessa enorme ala dos primatas.
Todos os dias, Adolfo
reunia sua equipe de profissionais bem treinados e especialistas em primatas e
passava de jaula em jaula, servindo alimentação balanceada, administrando
medicação aos enfermos, distribuindo sorrisos e carinho.
Adolfo não pedia nada em
troca, afinal era seu trabalho cuidar dos belos e inteligentes símios do tão
famoso ZooDarwin.
Mesmo não pedindo nada
em troca, o carinhoso tratador de animais sentia-se muito (muito mesmo) feliz e
satisfeito ao ver que os bichanos retribuíam seus afetos imitando seus gestos.
Era uma grande festa
quando todos percebiam a chegada de Adolfo e sua equipe.
Certo dia, Adolfo teve a
brilhante ideia de criar uma coreografia com os animais, com a certeza de
sucesso entre os visitantes do Zoo.
Depois de vários ensaios,
com adesão quase geral da macacada, marcou-se o primeiro show.
Grande público se fez
presente no ZooDarwin, mais precisamente na ala dos primatas.
O coreógrafo Adolfo
estava deveras ansioso com a grande estréia de seu “Balé Animal”.
Silêncio no público.
Após a contagem regressiva feita lentamente por Adolfinho dos Macacos,
iniciou-se o grande baile.
Todos da ala dos
primatas imitavam com perfeição os passos decorados e ensaiados e programados e
inventados por Adolfo e sua equipe.
Todos da ala, exceto um
pequeno chimpanzé, o Randle Patrick McMurphy, mais conhecido como Ran.
Ran achou a dança muito
complicada e pensou também que aquilo na verdade nem era coisa de macaco.
Mesmo assim o pequeno
Ran queria assistir aos amigos dançarem e ficou encostado na grade, junto ao
público, para apreciar o espetáculo.
Ran, que nem queria
isso, chamou mais a atenção de todos do que o show preparado com amor por
Adolfo.
Todos aplaudiram o símio
espectador e até gostaram (um pouco) do espetáculo.
Ran despertou a fúria do
tratador de primatas, que tentou, sem sucesso e de diversas formas, ensinar a
coreografia ao macaquinho espectador.
Recorreu a grandes
pensadores, a outros tratadores, a seus auxiliares mas nada, nem ninguém, pôde
reverter o quadro de não-imitação do pequeno chimpanzé.
Na semana seguinte, após
comentário geral no ZooDarwin, nova apresentação foi marcada.
Novamente casa lotada.
Show impecável.
Ninguém perguntou por
Ran, que foi trancado na jaula dos leões provisoriamente para não atrapalhar a
coreografia e não desviar a atenção do público.
Randle Patrick McMurphy,
o pequeno chimpanzé que não queria dançar, nunca mais foi visto na ala dos
primatas nem em qualquer lugar do ZooDarwin, onde só os mais preparados
sobrevivem.
Rafael Freitas