sexta-feira, 12 de março de 2021

Hoje é meu aniversário

Eu não consigo entender essa injustiça.

Mais um ano, mais uma comemoração sob o medo e a incerteza.

Devia ser mais um dia comum, como há trinta e seis anos atrás.

Devia ser um choro de renascimento junto ao badalar do sino da igrejinha.

As lágrimas, hoje, são por vidas, sim.

Vidas perdidas. Descaso.

O acaso nos protege.

Não fosse isso, estaríamos todos mortos.

Oh, Santo Protetor das Armas de Fogo, incendeie com sua mais viril chama a consciência flamejante dos imbecis, déspotas, inconsequentes e sarristas filhos de tua pólvora.

Ainda que eu ande pelo vale das sombras da morte, não temerei mal algum, pois Tu estás comigo.

Que minha mãe possa soprar suas velas sobre um bolo de confeitaria e não sobre o túmulo de seus filhos.

Resisto.

Sobrevivo.

Eu não consigo entender essa apatia.

Essas mãos atadas prontas para um nocaute ao poder insensível.

As flores não estão mortas, só murcharam um pouco em meio ao árido topor seco da desonra.

Coração na boca, respiração pausada, medo de inalar o ar que em outros tempos era o prana.

Mais um ano e tudo parece estacionado.

Ampulheta imóvel, areia em suspensão.

Não quero novos anos.

Anseio o que é meu por direito: a vida.

Quero brincar com meus erros e acertos, minhas correções e falhas sem medo de não ter outra chance.

Os dias, desde o buraco na história, são sempre iguais.

Mas hoje não.

Hoje é o meu aniversário.


Oh, Mãe Divina

Me ilumina

Por onde eu andar.


Rafael Freitas