sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Feliz da vida


A vida lhe dá amores
Você os trai sem pena
A vida lhe dá sorte
Você acorda ao meio dia
A vida lhe dá família
Você freqüenta bares
A vida lhe dá trabalho
Você levanta de ressaca
A vida lhe dá as cores
Você adora o Batman
A vida lhe dá Mozart
Você prefere Ozzy Osbourne
Então, não mais que de repente
A vida desiste de você.

A vida lhe dá solidão
E você nem se importa
A vida lhe dá azar
E você já o esperava
A vida leva seus pais
E pra você essa é a ordem
A vida lhe tira o trabalho
E você curte a preguiça
A vida lhe dá daltonismo
E você ainda ama o Batman
A vida lhe diminui a audição
Você sabe que a culpa é do Ozzy
Então, sem surpresas nem sustos
Você se sente feliz.

(Feliz da vida!)

                                                    Rafael Freitas 

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Outro outono


Eu vejo as folhas despencando das árvores
E sinto a tristeza boa dos fins de outono.
Aquela solidão querida e necessária
Para o despertar de novos dias, olhar novos caminhos.
Não raro me deparo a examinar as flores
Gosto muito dos ipês, dos lírios e dos manacás.
Não vejo a beleza existente no concreto.
Essa beleza certamente existe, mas não a vejo.
Passeio pelos dias esperando a chance de descansar
Esperando a desforra dos horários herméticos,
Dos salários curtos, dos dias sem a luz do sol.
As cortinais azul escuro não tem beleza,
Somente o vento que as faz subir
E derrubar meus óculos, meu copo d’água, meus papéis.
Papéis inúteis para a vida. Papéis simplesmente inúteis.
Nesse mundo de burocracia e voto obrigatório
Onde habita a liberdade do olhar, do pensar?
Pensamos a liberdade como inerente ao ser
Mas não. Ela se desprende a cada passo nosso
Em direção aos padrões das propagandas de margarina.
Não precisamos de carros novos, aviões de prêmios,
Nada disso. Ou daquilo. Ou isso. Ou aquilo.
Ando tão perdido em devaneios e quimeras
Que acordo dentro do meu próprio sonho.
As folhas outonais são livres. Caem e voam ao vento.
Libertam-se levemente do cárcere dos galhos.
Mesmo assim estão presas às estações.

                                                                      Rafael Freitas


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Novamente Eu


O caminhar eterno em cima do muro
A indecisão infinita por qual lado
A indefinição constante, atemporal
O paradoxo, o imperfeito, o arredio
O nada a declarar e a fala incessante
O olhar atento e a desatenção
O notívago das manhãs de sol
A claridade escondida pela tempestade
O fim, o rompimento, a secessão.
Arrependimentos felizes.
Certezas inúteis.
O recomeço.
Sempre o recomeço.
Tudo isso me define bem.

                                                              Rafael Freitas