quarta-feira, 30 de abril de 2014

Quinta carta, quinto ano

“Eu vi uma bruxa, com uma faca na mão, passando manteiga no pão...”
Eu não vi uma bruxa. Vi seu sorriso lindo e toda sua verdade, sua emoção, talvez sua herança, minha vida.
As histórias nos pegaram. As histórias nos uniram. As histórias nos fascinam.
A mim e a você e a quem as ouve.
Que o consumismo não consiga se impor a este coração tão belo, a estes olhos meio meus e meio orientais.
Hoje vejo o quanto o tempo passa e o quanto a vida se faz história presente.
O passado não fica mais distante quando se tem um filho, um grande amor sem explicação.
Pra mim, no mais claro chavão, parece que foi ontem.
Foi ontem que fui surpreendido com o seu nascimento repentino, seu choro esporádico, seu cheiro que só eu pude gravar para sempre.
Faz cinco anos. 30 de abril de 2009.
Fico emocionado ao pensar em tudo que passamos neste curto período tão longo, tão cheio de narrativas, tão cheio de surpresas.
Fiquei muito feliz. Fiquei muito triste.
Você sempre ali, com suas cócegas, seu abraço, seu “te amo, pai”, dito rapidinho para não atrapalhar o desenho animado.
Somos Transformers da vida real, sem revisão na internet. Não temos bula, nem manual de instruções.
Vamos nos descobrindo e, mesmo em erro, tentando respeitar nossos espaços, nossas vontades.
Não tenho muito para deixar aqui. Você é quase que toda minha herança para a humanidade, que carece de corações e mentes como a sua.
Não tenho grande fortuna, nem lembrancinhas em E.V.A., nem presentes caros, nem nada.
Mas tenho minhas histórias. Tenho as histórias que construimos juntos.
Temos muitas histórias a construir.
Somos sujeito e predicado inseparáveis. Encontro sem hiato.
Este é meu presente: deixo você escrever seu próprio poema da vida.
Serei seu maior leitor e, quando necessário, um corretor ortográfico.
Cheio de críticas sempre, mas com muito amor para dar.
Parabéns meu Pequeno Ramone.

“I believe in miracles!”

                                                     Rafael Freitas


terça-feira, 29 de abril de 2014

Maria

O mar ia me trazer conchas mais belas
Pra na praia arrebentar
O mar ia me dizer palavras doces
Pra me consolar
Três Marias, noite clara, lua linda
Pra iluminar
Sete velas pra Maria, mil pedidos
De nos abençoar

Maria!

Amar ia ser mais belo sem cobrança
Por prazer de se doar
Amar ia ser mais puro se feito criança
Se soubesse amar
Mil Marias, mundo em paz, de gente simples
Como eu quero ser
Ser criança, Maria!

Maria!

                                                    Rafael Freitas


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Isso não passa por enquanto

Enquanto isso vou lá fora
E espero o vento dissipar
Soprar a fumaça do cigarro
E meus últimos pensamentos

Enquanto isso espero o dia
Que talvez nunca virá
Você voltando em linhas tortas
De um poema sem final

Enquanto isso ainda guardo
Os presentes, os instantes
O passado nas paredes
No corredor do coração

Enquanto isso fecho os olhos
Relembro os beijos não trocados
As bocas secas, solitárias
Sem palavras, sem sorrisos

Enquanto isso não sei quando
Vou dormir sem a saudade
Sem saber a todo instante:
Isso não passa por enquanto

                                                      Rafael Freitas

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Bananeiras de jardim

A grama é a mesma desde sua partida.
Não foi aparada, nem cuidada, nem nada.
Suas pegadas devem estar ali, escondidas sob o verde pálido, sob espaços mortos.
A bananeira cresceu. Sozinha, sem atenção.
Não cortei mais os cabelos. Só faço a barba em ocasiões.
Espero ainda um momento especial, uma surpresa, que certamente não virá.
A emoção secou. Talvez a tristeza tenha me transformado em uma pessoa melhor.
Não estou mais triste. Nem feliz.
Vou seguindo.
A grama meio alta e meio morta me incomoda, mas não tenho forças para cortá-la.
Sou como a bananeira. Cresci por estes dias, sozinho, sem atenção.
Sozinho. Estou sozinho.
Tenho mais amigos, mais tempo, mais sorrisos.
Ainda assim estou sozinho.
As teias de aranha aumentaram. O tamanho das lagartixas também.
O espaço pequeno da pequena casa é enorme.
O mundo parece agora um buraco. Gigantesco e vazio.
Estou no centro, rodeado pelo vácuo da ausência.
A grama meio alta e meio morta me incomoda, mas não vou cortá-la.
Não quero ver seus passos, descobrir minhas fraquezas, perder a respiração.
Vou continuar crescendo, como as bananeiras.
Quem sabe cortar os cabelos.
Cabelos compridos são marcas do passado. Os mesmos fios que sentiram seu afago ainda estão aqui.
Começar pelos cabelos, depois a barba, depois o resto.
Surpresas nem sempre são boas. É melhor que não aconteçam.
As horas passam.
Tudo passa.
A grama, depois de aparada vai crescer de novo, assim como os cabelos e a barba.
A vida continua.
As bananeiras crescem, mesmo sozinhas e sem atenção.


                                            Rafael Freitas


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Nascer de Sol

Nada pode ser maior
Ou mais intenso
Que o mais brando
Porém imenso
Nascer de sol

Pode não ser o momento
Não ser a hora
Frente a tanto contratempo
Não ser agora
Em resumo: pode não ser

O sol de novo nascerá
Queimando nossas retinas
Queimando a pele
Morenas Anas e Carolinas
Que se revelem!

E desta vez eu me contento
Esta ânsia que me devora
Deixei pra trás o meu lamento
Sou brisa leve que vai lá fora
Em resumo: vou mesmo assim

                                              Rafael Freitas