terça-feira, 30 de abril de 2019

Dez anos em Saturno


“Te amo, isso eu posso te dizer, como eu gosto de você, ah, como eu gosto de você!”
Mais de seis mil dias em Marte.
Acordei com esse tempo nas costas nesse trinta de abril.
Não habitei mais este mundo desde que conheci seu olhar cheio de vontade, de força, de esperança.
Duzentos e noventa anos em Saturno.
Quase uma eternidade bíblica, uma vida inteira sua, grande parte da minha, que diante de um universo não é quase nada.
Um universo de coisas a se conquistar, coisas que, conquistadas sem amor, não significam nada.
Cento e vinte anos em Júpiter.
E nessa centena de milhares de abraços, nesse infinito de entendimento em olhares, nesse tempo de compreensão mútua, recebi muito mais do que ofereci, doei mais de mim do que imaginei que pudesse fazer.
Completamos esse ciclo juntos, um ciclo pequeno frente à capacidade do seu coração, frente à capacidade do meu coração em amar alguém.
Que nosso futuro seja o caminho repleto das flores que semeamos.
Você sabe das coisas e as explica melhor do seu jeito do que eu tentando ser acadêmico.
E, quase sempre, explica o mundo.
Você está pronto.
Sinto pesar em saber que um dia, talvez em breve, você encontre novos caminhos e nossa rotina se afaste uma da outra.
Ao mesmo tempo, tenho muito orgulho por ter certeza de que, esteja onde estiver, você será a luz que iluminará seus passos e o caminho de outras pessoas.
O acaso pode até separar nossas rotinas, mas meu pensamento, meu coração e minhas orações estarão sempre contigo.
Estive, estou e estarei aqui, todo o tempo.
O mundo é seu, meu filho, meu amor, meu Pequeno Ramone!

Rafael Freitas



quarta-feira, 24 de abril de 2019

Todo mundo é mais feliz


Todo mundo é mais feliz que eu.
Ao menos todos sorriem mais.
Ao menos publicam fotos sorrindo.
Talvez, todos se incomodem menos do que eu.
As almas incomodadas nunca estão satisfeitas, nunca se realizam e quase nunca sorriem.
Todo mundo parece ser mais feliz que eu.
Logo eu, que sempre soube o que queria da vida.
Logo eu, que sempre achei que soubesse o que queria da vida.
Logo eu, que sempre achei que soubesse algo.
E agora, com o tempo passado, eu que achei que soubesse, não sei nem onde estou.
Não que esteja perdido.
Não que não tenha uma casa.
Não que não tenha ninguém.
É que não tenho encontro.
Não tenho esse encontro com caminhos, com casas, com pessoas.
Todo mundo acha que parece ser mais feliz que eu.
Ao menos republicam imagens, por mais antigas que sejam.
Talvez a felicidade more sempre no passado, no “eu era feliz e não sabia”.
“...e não sabia”. Talvez a felicidade more na ignorância.
O não saber pode ser a chave para o mundo mágico de Alice.
O País das Maravilhas.
É que eu desisti de ser o adulto dos meus sonhos de vinte anos atrás.
Todo mundo sonhou um dia.
Todo mundo sonhou que achava que parecia ser mais feliz que eu.
Eu acho.
Acho mesmo.
Que estamos todos no mesmo barco.
Tenho certeza.

Rafael Freitas





segunda-feira, 22 de abril de 2019

Frente a frente


Frente a seu amor serei preciso
Incisivo feito fosse uma navalha
A alma estática frente ao paraíso
O corpo em chamas feito uma fornalha

Frente a seu amor serei contido
O medo faz o vil vencer grandes batalhas
Camuflado em sangue e pó se for preciso
Escondendo a dor feito um canalha

Frente a seu amor serei preguiça
O trabalho cansa a mais nobre alma
Serei rendido por condenáveis vícios
Sem me tornar estorvo (desgosto) em sua cama

Frente a seu amor serei como você
Quero entender como você se agüenta
Quero entender tudo sobre cinismo
E essa breguice dos anos noventa


Rafael Freitas