segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Dias que parecem não ter fim


Olhava distante a cidade.
O vidro embaçado pela chuva dava a impressão de que a realidade não era aquela.
Talvez, realmente, não fosse.
A cidade, enorme, engolia os carros e as pessoas e cuspia um barulho ensurdecedor.
Todos, sem exceção, buscavam não se sabe o que, não se sabe onde, não se sabe quando.
Uma inquietude na alma que refletia em dores no corpo, aperto no coração.
Desceu correndo do carro sem prestar muita atenção ao redor.
Pausa.
Encontrou-se, repentinamente, no ano que não terminou.
As mãos suadas, a boca e os olhos secos.
Queria sair dali, correr sem olhar pra trás, mas era tarde.
Desviou o corpo trêmulo das fardas, subiu as escadas infinitas e encarou o cárcere voluntário.
Como foram aqueles anos?
O que aquelas paredes viram?
Será que foi tudo mentira ou a verdade se esconde no cinza dos corrimões?
Definitivamente, não era isso. Não era aquilo. Não era.
Melhor ir embora.
Melhor não voltar no tempo.
Viverá eternamente com esta dor no estômago do ano que não terminou, deste ano que não termina.
Viverá eternamente com esta angústia do passado que volta à tona, dos dias que parecem não ter fim.

Rafael Freitas



segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A saudade era a mesma


Os dias pareciam sempre iguais.
A mesma dor, o mesmo cansaço, a mesma solidão.
Talvez as mesmas escolhas em sentir sempre o mesmo.
Mudanças não aconteciam ou não eram aceitas.
A saudade era a mesma. Dos olhares e das noites intermináveis ao seu lado.
Por que não conseguia ficar ali?
Não sabia a resposta.
Corações livres quase sempre são sozinhos.
Um querer arrependido ao amanhecer do dia.
Amores são contratos.
Não queria contratos iguais a todos que já viu.
Não queria uma vida igual.
Estava agora face a face com o abismo.
Queria apenas segurar a mesma mão.
Unhas vermelhas e anéis gigantes.
Ela gosta de ouro. Já ouvira.
Não tinha muito a oferecer.
Corações livres quase sempre são sozinhos e não têm nada a oferecer.
A saudade era a mesma. Talvez maior que antes.
Não tinha muito a dizer.
Os dias pareciam sempre iguais.
A mesma dor, o mesmo cansaço, a mesma solidão.
Talvez as mesmas escolhas em sentir sempre o mesmo.

Rafael Freitas