terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sidarta, meio confuso

Novamente os olhos se abriram.
Não foi desta vez. Talvez não seja breve. Talvez não seja nunca.
A eternidade é a busca que não quer alcançar. Não quer.
Outros querem. Nomes, placas, cadernos de visita, saudades de alguém.
Os olhos se abriram remelentos, secos, vermelhos.
Olharam ao redor sem grandes visões. Um quarto, um armário de portas abertas, uma TV com o pior dos programas matinais.
Pode ser que tenha superado o sentimento triste que a solidão traz.
Não se sente mais só.
Não faz questão de companhia.
Talvez o tempo, a idade, os desastres, os enganos não tolerem bruxismo, divagações, respirações ofegantes de outra pessoa.
Sempre dorme enquanto ronca. Não incomoda a si mesmo.
As horas correm, os prazeres diminuem.
Sabedoria pode ser apenas ser. Meio Sidarta, meio confuso.
Ainda existem cervejas, bares que nunca fecham, alguns amigos bons, cigarros e bitter tônica.
Já é hora do trabalho. Melhor trocar as roupas, tirar estas remelas, esquecer velhas mazelas, dar bom dia às Cinderelas.
A vida é boa, cansativa, enfadonha, porém boa.
O que tiver de ser, mesmo que nunca seja, já é alguma coisa.


Rafael Freitas