quinta-feira, 17 de abril de 2014

Bananeiras de jardim

A grama é a mesma desde sua partida.
Não foi aparada, nem cuidada, nem nada.
Suas pegadas devem estar ali, escondidas sob o verde pálido, sob espaços mortos.
A bananeira cresceu. Sozinha, sem atenção.
Não cortei mais os cabelos. Só faço a barba em ocasiões.
Espero ainda um momento especial, uma surpresa, que certamente não virá.
A emoção secou. Talvez a tristeza tenha me transformado em uma pessoa melhor.
Não estou mais triste. Nem feliz.
Vou seguindo.
A grama meio alta e meio morta me incomoda, mas não tenho forças para cortá-la.
Sou como a bananeira. Cresci por estes dias, sozinho, sem atenção.
Sozinho. Estou sozinho.
Tenho mais amigos, mais tempo, mais sorrisos.
Ainda assim estou sozinho.
As teias de aranha aumentaram. O tamanho das lagartixas também.
O espaço pequeno da pequena casa é enorme.
O mundo parece agora um buraco. Gigantesco e vazio.
Estou no centro, rodeado pelo vácuo da ausência.
A grama meio alta e meio morta me incomoda, mas não vou cortá-la.
Não quero ver seus passos, descobrir minhas fraquezas, perder a respiração.
Vou continuar crescendo, como as bananeiras.
Quem sabe cortar os cabelos.
Cabelos compridos são marcas do passado. Os mesmos fios que sentiram seu afago ainda estão aqui.
Começar pelos cabelos, depois a barba, depois o resto.
Surpresas nem sempre são boas. É melhor que não aconteçam.
As horas passam.
Tudo passa.
A grama, depois de aparada vai crescer de novo, assim como os cabelos e a barba.
A vida continua.
As bananeiras crescem, mesmo sozinhas e sem atenção.


                                            Rafael Freitas


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