segunda-feira, 12 de maio de 2025

Sobre perdas

Era uma manhã nublada, dessas de boca seca e vontade de sumir.

Quando o telefone toca num sábado bem cedo nunca é boa notícia.

As roupas balançavam no varal sem nenhum barulho. O mundo estava em silêncio com a notícia sobre você.

Talvez não fosse sobre você.

Pode ser que tenha sido mais sobre mim que sobre você.

Na verdade, nem um, nem outro.

Era sobre a fragilidade humana, a brevidade da vida e todas as questões sobre sentido.

Era sobre o agora, a ansiedade e a espera por um futuro que nunca chega.

Era sobre o que se sabe sobre tudo.

Nada.

Eu não sei nada. Nunca entenderei a profundidade de um gesto tão cruel e poético em si mesmo.

A possível busca do amor eterno de Shakespeare, em seu Romeu e Julieta.

A pílula vermelha da Matrix.

Só posso dizer do silêncio que se criou na insensata gritaria dos meus pensamentos.

Hamelin perdeu seu herói.

A orquestra perdeu o solista.

Eu perdi um irmão.

 

Rafael Freitas