segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Abaporu que nada

Às vezes me pego lembrando da primeira vez que a vi.

Pequena, branca, de colo, uma mancha entre a testa e o nariz.

Já sabia a que veio, eu sabia porque vinha.

Como as brisas leves que se vão, vi você partir para outra vida que não a nossa.

Levou consigo meus pensamentos, meus sonhos, meus pesadelos.

O tempo passou massacrante, sem pena.

E como tudo tem caminho, os nossos se cruzaram, recruzaram, encontraram-se.

As linhas tortas de Deus.

Já perdi horas do meu valioso sono para ver você dormindo, boca aberta, ronco leve.

Pude torcer pela vitória, chorar pela derrota, amargar algum fracasso seu.

Como é bom poder sentir.

É bom poder ver você dormindo na mesa, cabelo azul, barriga cheia.

Ver vocês crescendo juntos.

A vida é bonita. Vida que vale a pena.

Minha escritora que luta, a lutadora que escreve.

A rebeldia, a revolta e a testa enrugada que me orgulham.

É lindo saber que somos únicos e isso é revelador.

Amo você, que tem nome de artista e espírito de guerra.

Abaporu que nada.

 

Rafael Freitas

3 comentários:

  1. Não tem como ler e não chorar. Adoro seus textos e vocês são o máximo.

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  2. Olá, pai. Tarsila aqui! Kkkkkkk cabelo azul da cor das lágrimas, chorando de alegria.

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  3. Que lindo! O universo sempre conspira a favor!

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