quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O que sobrou do amor

Eu só podia olhar pra cima.
Os olhos cheios de sangue e lágrimas e pó também.
O que sobrou do amor.
Seu pé em minha garganta e as gotículas de saliva que voavam de seu vocabulário imundo direto pro meu rosto.
Depois de me surrar, humilhar, cuspir e escarrar, me deixa uma carta de amor.
De novo amor.
“Sua insensibilidade lhe causou isso tudo. Seu sangue e sua dor nem se comparam com o que passo todos os dias ao pensar em você”.
Eu só fiquei em casa.
Você ao portão, ao telefone, à espera.
À espera, à espreita, às escuras!
Eu? Em casa.
Certamente não correspondi.
Nunca soube o que queria e não sei o que quer.
Ama e odeia com a facilidade de quem tira os óculos pra não ver o indesejado.
Depois que o sangue parar de jorrar e meus olhos voltarem a ver, espero que não reapareça.
Cartas de amor não são analgésicos.
A dor física é latente.
Não espere que eu sofra por amor.
Ainda me sobram dores.

                                                                               Rafael Freitas


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