Hoje eu decidi não tê-lo.
Peguei as poucas coisas que tenho, poucas mesmo, coloquei em uma mochila e deixei pra trás o conforto de uma vida com pai, mãe e cachorro, mesmo porque, no fim das contas, o cachorro sou eu.
Tenho certeza de não estar louco, pelo menos por enquanto, e não quero ser tratado como tal. Sei muito bem o que ouço e o que falo, embora me neguem o que ouço e deturpem o que falo. É tudo uma grande comédia.
E agora estou eu aqui, sem aquela idéia adolescente de que se tudo der errado eu volto pra casa. Tudo agora depende exclusivamente de mim.
É estranho. Mas eu gosto de coisas estranhas.
Tudo isso é só mais um momento sem importância em minha vida, embora minha vida seja inteira de momentos desimportantes.
Eu nunca consegui mudar o mundo, mesmo tendo esperança de vez em quando.
O mundo não quer mudar. O egoísmo humano é habitual, e cada pessoa acredita plenamente em suas verdades. E de que servem minhas verdades filosóficas?
Até meus pensamentos são inúteis. Eu me conformo com isso. Quando se destrói o corpo em busca de alimentação, sobreviver é uma dádiva, existir, uma utopia.
Como discutir relações de poder com um cérebro dominado?
Como frutificar a existência com quem sempre se escondeu do mundo?
Por tudo isso eu prefiro não ter um lar.
É melhor apropriar-se do desconhecido que ser um desconhecido apropriado.
Rafael Freitas
Este texto é um pouco antigo...
Senti saudades dos tempos de mudança.
A ficha técnica da imagem fica por conta do Agenor.
Abraço.
Usando da ironia e sarcasmo como leitmotiv e das conjunções como quem prepara um golpe contra a cara do mundo, vemos aqui o talento de R.F. à beira quase do instintivo e pleno de humanidade. Gostei muito do texto. Espero até, (quem sabe?) ter começado bem o dia.
ResponderExcluirLa chambre de Van Gogh à Arles (Quarto de Van Gogh em Arles) -1889 - óleo sobre tela - 57 x 74 cm - Musee d'Orsay - Paris.
A recíproca é verdadeira, também gostei do q escreves!
ResponderExcluirFica a vontade pra publicar O BARANGUERREIRO IDEOLÓGICO
Abço e SORTE pra ti