A morte mudou os meus planos.
Justo eu que estava pronto pra viver, andar na terra, sentir
a chuva.
Não que estivesse pronto pra viver no momento em que ela
chegou,
Mas que viveria em breve, quando tudo desse certo.
A morte não me deu tempo pra curtir meu carro novo,
Nem a reforma da casa, nem a viagem pro Peru (que sairia
esse ano).
Essa tão temida e desprezível sina, morrer antes do nascer
do sol
Num dia sem chuva, seco, empoeirado.
A morte não esperou virar o cartão. Não esperou a Black Friday
do mês que vem.
Não quis saber do meu IR nem do final da placa do carro.
Eu jurava que ia viver pra ver uma Primavera no coração da
humanidade
Eu jurava que ia dar tempo do Hexa, do inelegível preso, do
laranjado isolado do mundo.
Jurava que ia ver meus filhos homens, minha filha vencendo
um campeonato
Minha mãe sem o peso da obrigação de ser mãe da própria mãe.
Tinha certeza que ia trabalhar menos em breve, ia conhecer
Manaus
Pisar na areia de Salvador novamente.
Não deu tempo. Não deu tempo de nada.
Fiquei olhando as flores brancas murchas, algumas margaridas
com miolo amarelo.
Apertei a testa, queria chorar, não consegui.
A mim, o tempo ainda resta.
Que plano é esse que a vida tem pra nós?
Que porra é essa de morrer sem avisar?
Eu avisei. Quem avisa, está com medo
De acontecer consigo o que prevê pro outro.
Rafael Freitas